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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Como assim eu odeio homens, mas sou casada com um?

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Vez ou outra eu revelo que odeio homens. E todo mundo me olha incrédulo e exclama, as vezes rindo: você é casada com um!

E eu fico: sério? Eu não fazia ideia!

Vamos primeiro a alguns esclarecimentos:



I)                     Casei porque eu QUIS. Ninguém me obrigou. Casei por amor (eu acredito nele, se você não, problema seu). Casei feliz da vida e estou felicíssima com a minha decisão;
II)                  Não estou grávida como dizem os tablóides malditos de Manaus. E eu estou em grupos de gestantes desde 2014 (muitos anos antes de conhecer meu esposo) pelo simples motivo de eu adorar ler as histórias de lá;
III)                Adicionei o sobrenome dele, pois eu acho muito bonito e eu queria tê-lo;
IV)            Preciso falar sobre os sentimentos? Provável. Esse texto já tem um assunto muito pesado, muito carregado, então vamos aos refrescos: eu o amo. Ele se mostrou alguém diferente, alguém que eu possa depositar minha confiança e coração. Do mesmo modo que eu espero que ele não me magoe e do jeitinho que eu o amo, ele mostra ser completamente recíproco.

E fala sério, isso não é da conta de ninguém e eu só estou digitando isso por motivos de NON SEI.
Porém, outro esclarecimento: eu odeio homens mesmo.

Mas não ache que eu bata neles individualmente ou mate-os com as minhas armas feministas; eu tenho até amigos que são homens. Por favor!

Agora falando sério: o ódio aqui não é distribuído gratuitamente, sem razão alguma. Na verdade, o que eu mais tenho são motivos.

Vivemos em uma sociedade patriarcal, em que homens têm uma dominação sobre nós, mulheres, gritante. Essa sociedade referida diz respeito a quem o poder está distribuído e quem tem domínio sobre ele.

Vivemos em um mundo em que, se uma mulher é estuprada, a reação de todos é concluir abertamente, que a culpa é dela, quem mandou estar usando aquela roupa ou estar naquele lugar àquela maldita hora. O estupro cometido é visto como uma reação dos instintos dele e a culpa é da moça que atiçou os instintos. Ela tem que pensar muito bem em usar uma saia, pois ela tem que ter medo de ser estuprada.  

Vivemos em um mundo em que mulheres são colocadas em cárcere privado, presas em cubículos, apanham de canos, são amarradas, espancadas, levam socos e são mortas por serem mulheres. Pois seus parceiros as têm como um objeto de uso, como uma apropriação deles. E      a culpa é dela de se envolver com esses caras, afinal, todo mundo engole a história de “o homem é violento por natureza”.

Vivemos em um mundo em que as meninas, crianças ainda, são erotizadas, recebem uma influência para serem mais adultas, desde o jeito de se portar e vestir, como de pensar. Seja a sua altura ou o desenvolvimento do seu corpo, ela já é atingida com a ideia de que, no futuro, ela que tenha cuidado com os gaviões. O corpo dela é adultizado quando ela ainda tem doze ou treze anos. E se um homem de vinte ou trinta anos assobia para ela, a culpa tende a ser dela ou ela que não se sinta ofendida com isso.

Mulheres são impedidas de fazerem faculdade, de estudarem, trabalharem, investirem e sonharem; nosso globo as impõem como incubadoras, como àquelas que só servem para o lar e para serem recatadas (e olha, de preferência belas e por favor, sempre tendo consigo um aspecto jovem).

Quando eu digo que eu odeio homens é como se eu estivesse simplificando o termo patriarcado; eles, os homens, que decidem se um igual a eles deve ser condenado por feminícidio ou não; são eles que decidem o que deve ser feito com o corpo feminino; eles que dizem se somos ou não merecedoras do desejo deles; eles classificam o que é sexy ou não.  

Esse discurso é baseado na generalização SIM. Existem vários homens que “ah, eu apoio a luta feminista, gostaria até de falar sobre...” e quando tem a oportunidade, ironizam a luta, desqualificam alguma mina, fazem piada sexual (e até assediam com a desculpa de que era apenas uma brincadeira). Os homens, queridas pessoas, estão nessa posição de poder. 

Sobre ser envolvido com o feminismo ou não, essa luta é nossa. Só nossa. Sobre nossa vivência e nosso sofrimento. Somos nós que entendemos e não quem está do outro lado da briga.

E sobre: mas nem todos são assim como tu falou, Ket. Verdade, nem todos são. Mas uma grande parte, uma GRANDIOSÍSSIMA parcela é. E se você não comete nada disso, que bom, né. Felizmente você deve ter noção. E é por isso que, se você tem a famigerada noção, não deveria se ofender, pois é necessário que você admita que esteja de um lado privilegiado, já que pode ter pêlos, poder falar palavrões, fazer o que quiser (curso universitário e trabalho, por exemplo) e roupas, pois você será visto como um quebrador de padrões e será felicitado por isso. Se uma mina tenta quebrar padrões, é avacalhada com xingamentos de mulher-macho ou porca e etc, tudo com o intuito de magoá-la.

Vai me dizer ou não que isso não gera revolta? Pois é. Olhe na sua rua, no seu condominío, olhe ao redor, nos notíciarios: a história de violência contra a mulher se repete e, pelo andar da carruagem, vai se repetir por muito tempo.

“Mas eu gostaria tanto de ajudar...”, beleza, ajuda. Sabe como? Incentivando a moça a falar, a se expressar, nunca interrompendo a fala dela e nem por sua opinião acima da experiência vivida de alguma menina e faz da própria opinião um argumento maior que a própria vivência e anos de estudo dela acerca do assunto. Ajuda chamando a atenção do seu amigo assediador. Ajuda não ficando puto porque alguma garota não quis ficar com você. Não espalha nudes. Não colabora com boatos. E tendo noção disso tudo, aí sim você estará ajudando.

Eu me refiro a um sistema opressor que destrói mulheres, limita seus futuros e acaba com suas forças, deixando-as com inúmeras cicatrizes e traumas.

Meu ódio é esse. E eu às vezes me sinto de mãos atadas.

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